Nesta caminhada por Mateus 6, refletimos sobre o cuidado de Deus por Seus filhos e sobre o que os discípulos de Cristo devem buscar. Dentre outras coisas, Jesus ensina que Seus discípulos não devem orar para buscar o elogio dos homens nem usar de vãs repetições - pois quem faz isso são os que não servem a Deus. A forma de orar ensinada por Jesus é em secreto, buscando a glória de Deus, e com a fé de que Ele sabe tudo o que necessitamos, mesmo antes de lhe pedirmos (Mateus 6:7-8). Além de ensinar a forma como devemos orar, Jesus nos ensina o conteúdo da oração:
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal.
Mateus 6:9-13
Meditemos nesta oração por partes.
"Pai nosso" - Deus é nosso Pai, a quem dirigimos a oração. A paternidade expressa amor e cuidado. Ter o próprio Deus como Pai traz a certeza de amor e cuidado. Nossos pais terrenais nos amam e cuidam de nós; mas falham, pois são pecadores e limitados, como todos os humanos. Deus não falha; Ele sabe todas nossas necessidades, mesmo antes de lhe pedirmos. Mas podemos ir além: Ele de fato sabe o que precisamos. Parece redundante, mas não é. Uma criança pode pensar que precisa de um pedaço de bolo de chocolate para se alimentar durante o almoço; mas seus pais, mais experientes e sábios, sabem que o de fato ela precisa é de alimentos que ofereçam os nutrientes adequados nessa refeição.
Diante de Deus, somos como crianças que acham que sabem o que necessitam. Mas Deus sabe o que de fato necessitamos, pois Ele sabe o que é necessário para nosso crescimento na fé. Além de saber, Ele é poderoso o suficiente para dar-nos. Por vezes, mesmo que um pai terrenal saiba do que seu filho precisa, ele não tem o poder suficiente para adquirir e dá-lo a seu filho. Com Deus não há esse risco: Ele é o único Pai que tudo sabe e tudo pode.
"que estás nos céus" - Deus está em posição elevada (nos céus), é o Deus supremo sobre tudo e todos. Os pais amam e cuidam de seus filhos, mas os filhos não estão no mesmo patamar que seus pais na hierarquia familiar; é preciso que os filhos respeitem os pais. Se com os pais terrenais é assim, imaginem com Deus! Ele é nosso Pai, mas isso não é motivo para acharmos que podemos tratá-lo de qualquer maneira. Ele está nos céus, elevado, acima de tudo - devemos nos submeter a Seus mandamentos.
"santificado seja o teu nome" - Este pedido é mais um retrato da elevação de Deus sobre tudo. O nome dEle é santificado, isto é, separado; nada nem ninguém está no mesmo nível que Ele. O nome de Deus expressa Sua própria natureza, conforme lemos em Êxodo 3:14-15, quando Moisés lhe perguntou o Seu nome e Ele respondeu: "Eu sou o que sou", mostrando Sua auto-existência, imutabilidade e unicidade.
"venha o teu reino" - Por ser tão elevado e santo, jamais poderemos nos achegar a Deus por nossa própria vontade ou força. É por isso que pedimos que Ele venha até nós. Somos pessoas tão pecadoras que jamais poderíamos participar do Reino de Deus, se não fosse Ele vindo até nós, purificando-nos do pecado e nos fazendo participantes do Seu Reino, por meio de Cristo.
"faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu" - Mais um pedido para que Deus se aproxime de nós, desta vez no cumprimento de Sua vontade na terra. Os desejos dos homens jamais podem se elevar sobre a vontade de Deus. Nossa tendência pecaminosa é desobedecer a vontade de Deus, desde o Éden. É por isso que devemos pedir que a vontade dEle se cumpra, e não a nossa.
"o pão nosso de cada dia dá-nos hoje" - Como Pai, Deus é nosso provedor. É a Ele que temos que pedir por provisão e cuidado. Jamais devemos confiar em nossos próprios esforços ou na "bondade" de governos para nosso mantimento. Ele é a fonte de toda provisão e cuidado. Podemos olhar para as aves e para os lírios do campo e confiar que, se Deus cuida deles, também cuidará de nós.
"perdoa-nos as nossas dívidas" - Esse é mais um pedido que expressa nossa pequenez diante da grandeza de Deus. Temos dívidas para com Ele, somos pecadores e falhos, e por isso necessitamos do Seu perdão para que não sejamos condenados. Assim como temos necessidades físicas (o pão), temos necessidades espirituais de relacionamento são com Deus. Sem perdão, não há paz com Deus. E o perdão só pode ser recebido através do derramamento do sangue puro de Jesus Cristo, o Salvador (Veja Hebreus 9:22).
"assim como nós temos perdoado aos nossos devedores" - Essa parte da oração é explicada pelo próprio Jesus, nos versículos 14 e 15: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas". Desejamos que vontade de Deus seja feita aqui na terra assim como é feita no céu. Do mesmo modo, desejemos que Ele nos perdoe como nós perdoamos aos demais (e para isso, é preciso perdoar!).
"não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal" - Mais um pedido que mostra nossa total dependência de Deus. Pecadores num mundo caído estão constantemente sujeitos à tentação e à ação do maligno. Não pensemos que esse mal é sempre externo a nós mesmos, pois "cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz" (Tiago 1:14). Precisamos orar para que Deus nos livre de cair em nossa própria cobiça, que dá à luz o pecado. Mas, a parte seguinte da oração mostra que também devemos orar para que Deus nos livre do mal que está fora de nós, isto é, do maligno, que trabalha para que o homem se desvie da vontade de Deus.
A oração do Pai Nosso nos dá direção de qual deve ser o conteúdo das nossas orações, mas creio que ela principalmente nos ensina qual deve ser nossa atitude diante de Deus e diante de nós mesmos. Diante de Deus porque precisamos reconhecer que Ele é nosso Pai celestial, sendo muito mais elevado do que nós, e que, se não fosse por Ele, jamais poderíamos participar de Seu Reino. Precisamos reconhecer também que a vontade dEle é superior à nossa. E, diante de nós mesmos porque precisamos estar cientes de que somos dependentes de Deus tanto a provisão física (pão) como a provisão espiritual (perdão e livramento do pecado).
Aproximemo-nos de Deus em oração sabendo quem é o Pai e quem é o filho, quem é Santo e quem é pecador, quem é o Rei e quem é o súdito, quem é o Cuidador e quem é cuidado, quem é o Perdoador e quem é perdoado, quem não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta e quem é tentado pelo mal e por si mesmo.
Que, em Sua bondade, Deus lhe dê mais de Sua graça e perdão.
Amém ����
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